Os números, no entanto, divergem com as informações divulgadas pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA). De acordo com a pasta, a Bahia contabilizou 2.208 mortes violentas de janeiro a junho deste ano (121 a mais que o anotado pelo ministério). . Questionada quanto a essa incompatibilidade, a SSP-BA não respondeu. Já o MJSP reiterou que as informações sobre homicídios dolosos são fornecidas pelas secretarias de segurança pública estaduais e do Distrito Federal.
“A pasta recebe e valida os dados eletronicamente junto aos entes federados. Os dados são coletados por meio do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública – Validador de Dados Estatísticos (Sinesp VDE)”, esclareceu.
Com a quarta maior população do país, a Bahia ultrapassou Minas Gerais e São Paulo – que têm as duas maiores populações, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – em número de mortes absolutas neste ano, conforme contabilizou o MJSP. Por outro lado, o estado ficou na quarta posição em relação à taxa de homicídios a cada 100 mil habitantes, que foi de 29,52. À frente da Bahia, ficaram Alagoas (35,23), Ceará (38,98) e Pernambuco (40,34).
Ainda, tanto o MJSP quanto a SSP-BA registraram que houve diminuição de 15% no total de homicídios em relação ao mesmo período de 2023. Naquela época, 2.534 ocorrências foram contabilizadas, segundo o órgão baiano, enquanto 2.413 casos do tipo foram registrados pelo órgão federal.
Para Luiz Claudio Lourenço, sociólogo, pesquisador de organizações criminosas, professor da Universidade Federal da Bahia e um dos coordenadores do Laboratório dos Estudos sobre Crime e Sociedade (Lassos), essa queda de registros de homicídios em relação ao ano passado não significa necessariamente um caminho eficaz de combate à violência que assola o estado.
“Se a dinâmica de guerra ao varejo de drogas continuar, e se não houver uma política efetiva de diminuição da vulnerabilidade social da população jovem e maior oferta de oportunidades de vida digna, não vejo muita solução. Essa ‘diminuição’ não representa nenhuma vida a menos daquelas que já foram perdidas nesta guerra”, destaca.
Sendo o único a registrar mais de 2 mil mortes na primeira metade do ano, o território baiano ainda convive com as reiteradas constatações da hostilidade no cenário da segurança pública. Há pouco menos de 15 dias, a 18ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgada no dia 18 de julho, revelou que 6.578 mortes violentas em 2023 colocaram a Bahia na posição de líder do número de homicídios dolosos no país pelo terceiro ano consecutivo.
Anteriormente, no dia 18 de junho, o Atlas da Violência mostrou que, em 2022, 6.776 vidas foram interrompidas de forma violenta em território baiano. Também naquele ano, o estado foi líder em mortes violentas no país. A pesquisa foi produzida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Os dados tiveram como base números registrados pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), ambos do Ministério da Saúde.
O especialista Luiz Claudio Lourenço analisa que a persistência da posição de destaque da Bahia nesses indicadores se deve, além da escalada ininterrupta da violência armada e das facções, à falta de mudança nos métodos de enfrentamento do Estado. “Se a estratégia adotada para enfrentar as dinâmicas de violência não muda, como os números decorrentes dessa dinâmica irão mudar? Não é plausível esperar resultados diferentes adotando as mesmas estratégias”, critica.
Procurada para um posicionamento sobre o assunto, a SSP-BA enviou a mesma nota divulgada pelo órgão estadual no dia 17 de julho. “Reduzimos em 6% as mortes violentas no ano de 2023 e agora, no primeiro semestre de 2024, o índice apresentou queda de 13%. Os resultados alcançados têm relação direta com o trabalho incansável das forças policiais. […] Foram 347 casos em maio e 282 ocorrências em junho. A integração entre as Forças da Segurança, as ações de inteligência e os investimentos continuarão norteando o nosso trabalho”, destacou o secretário da Segurança Pública, Marcelo Werner.
ACOMPANHE NÚMEROS
1. Salvador – 441
2. Feira de Santana – 164
3. Camaçari – 95
4. Juazeiro – 64
5. Jequié – 40
6. Ilhéus – 40
7. Teixeira Freitas – 31
8. Simões Filho – 30
9. Vitória da Conquista – 27
10. Porto Seguro – 29
11. Dias D’Ávilla – 28
12. Barreiras – 23
13. Lauro de Freitas – 20
14. Casa Nova – 20
15. Santo Antônio de Jesus – 16
Por Larissa Almeida (Correio), com imagem ilustração/arquivo BCP
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