quarta-feira, outubro 29, 2025

Amizade que virou família: mulher hétero e amigo gay decidem ter uma filha juntos e criam história de amor e parceria


Existem muitas formas de se construir uma família — e a história da dona de casa Sandra e do gerente bancário Paulo César, 48 anos, é uma dessas que emocionam. Ela, uma mulher heterossexual; ele, um homem gay. O que começou como uma amizade sincera se transformou em uma das conexões mais fortes da vida dos dois: a criação de uma filha juntos.

Os dois se conheceram em um churrasco na casa da mãe de Sandra, por acaso. “O churrasco era na casa da minha mãe e só tinha amigos do meu irmão. No final, ficou tarde e Paulo acabou dormindo lá”, recorda Sandra, em entrevista à Revista Crescer. “Nunca o tinha visto antes, mas ele dormiu na minha cama. Fiquei morrendo de vergonha, mas a amizade foi nascendo naturalmente.”

Com o tempo, a convivência estreitou laços. Brincalhão e generoso, Paulo rapidamente se tornou uma presença constante na vida de Sandra. E, mesmo deixando claro desde o início que era gay, ela acabou se apaixonando. “Da minha parte, deixou de ser só amizade. Eu sabia que nunca teríamos nada, mas me apaixonar por ele foi inevitável.”

O sonho de formar uma família

Desde jovem, Sandra sonhava em ser mãe. Paulo, por sua vez, também desejava ter um filho. Entre conversas e brincadeiras, surgiu a ideia de terem um bebê juntos — algo que, inicialmente, parecia apenas uma piada entre amigos. Até que um dia, Paulo falou sério. “Ele sabia que eu gostava dele, mas nunca me iludiu. Dizia que queria ser pai. E eu também queria ser mãe, então embarquei nesse desafio.”

Diferente de muitas histórias modernas de co-parentalidade, o casal de amigos decidiu tentar pelas vias naturais. “Na verdade, só deixei de achar que era brincadeira quando começamos a colocar em prática”, contou Sandra.

Apesar do apoio mútuo, houve resistência da família, especialmente da mãe de Sandra, que achava que a filha era jovem demais. Mas o desejo de ser mãe falou mais alto. Após duas tentativas frustradas, na terceira veio a notícia tão esperada: Sandra estava grávida.

A chegada de Alyce

O anúncio da gravidez foi pura emoção. Paulo, radiante, saiu contando a novidade a todos. “Foi mágico. Ele fez plano de saúde, acompanhou o pré-natal, estava comigo em todos os exames. Quando descobrimos que seria uma menina, choramos juntos”, relembra Sandra.

Em uma cesariana tranquila e cercada de amor, nasceu Alyce, a filha que uniu ainda mais os dois amigos. Eles passaram a viver juntos na casa dos pais de Sandra. “Paulo queria estar perto da Alyce o tempo todo. Ele cuidava, acordava de madrugada, morria de medo de ela se engasgar”, lembra.

A rotina se dividia entre o trabalho de Paulo e os cuidados de Sandra, e o pai fazia faculdade à noite, sempre com o objetivo de dar um futuro melhor à filha.

Amor em todas as formas

Quando Alyce completou 3 anos, Paulo decidiu morar sozinho, mas nunca se afastou da filha. Continuou participando de tudo, matriculou a menina em uma escola particular e manteve-se um pai presente e amoroso.

Hoje, Alyce tem 21 anos, estuda História na Universidade de São Paulo (USP) e cresceu cercada de afeto e respeito. “Nunca precisei sentar e explicar nada. Ela sempre entendeu tudo com naturalidade. Conviveu com os amigos do pai, soube de seus relacionamentos. Sempre foi muito madura”, afirma Sandra.

Com o tempo, Sandra superou a paixão por Paulo, mas a amizade seguiu firme. Ela teve mais duas filhas de outro relacionamento — Lara, de 6 anos, e Mariana, de 1 ano e 9 meses —, enquanto Paulo hoje é casado com um homem e mantém excelente convivência com todos.

“Valeu a pena. Eu faria tudo de novo”, diz Sandra, com orgulho. “Alyce é uma filha maravilhosa, inteligente e amorosa. Ela é a prova de que amor é o que realmente define uma família.”

Por Vanessa Lima / Revista Crescer



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