terça-feira, dezembro 02, 2025

CASO TRISTE: Morto por leoa em cela, Vaqueirinho é enterrado na presença de duas pessoas


O corpo de Gerson de Melo Machado, 19 anos, foi sepultado na tarde desta segunda-feira (1º) no Cemitério do Cristo, em João Pessoa. No enterro, estiveram apenas a mãe, Maria da Penha Machado, e uma prima.

Segundo reportagem de O Globo, Maria da Penha, que perdeu o poder familiar há mais de dez anos por causa do próprio quadro de esquizofrenia, precisou reconhecer o corpo do filho no Instituto Médico-Legal antes do sepultamento. O funeral rápido refletiu a trajetória marcada por abandono, transtorno mental não tratado e repetidas falhas no sistema de proteção.

Gerson, conhecido como “Vaqueirinho”, foi afastado da família ainda na infância. A mãe perdeu a guarda de todos os filhos, e o nome dela chegou a ser retirado da certidão de nascimento do menino para facilitar uma possível adoção, que nunca aconteceu. Enquanto os irmãos foram adotados, ele permaneceu em instituições de acolhimento, sempre rejeitado por apresentar sintomas psiquiátricos.

A conselheira tutelar Verônica Oliveira, que acompanhou o jovem por anos, relata que ele fugia com frequência dos abrigos e buscava a mãe, também doente. Aos 12 anos, foi encontrado sozinho à beira de uma rodovia após uma fuga. Avaliações daquela época já apontavam comportamentos psicóticos e grande dificuldade de vínculo, embora o diagnóstico formal de esquizofrenia só tenha vindo mais tarde.

Sem tratamento contínuo, Gerson passou longos períodos nas ruas. Dormia em praças, pedia comida e, segundo familiares, às vezes provocava a polícia para ser detido, em busca de abrigo. A prima Ícara Menezes afirma que ele “tinha medo das pessoas darem nele” e via o presídio, onde conhecia o diretor, como um local onde se sentia protegido. Em algumas ocasiões, chegou a atirar pedras em viaturas para ser preso.

“Sempre procurou a mãe dele querendo amor, carinho e atenção. Ele nunca foi um menino de assaltar, de usar droga. Ele tinha problemas psicológicos e os outros se aproveitavam”, disse Ícara ao G1.

O jovem também se envolveu em pequenos furtos motivados pela fome e, em momentos de delírio, demonstrava obsessão por animais. Ele chegou a entrar no trem de pouso de um avião tentando viajar clandestinamente para a África, onde dizia que seria domador de leões. Em outra ocasião, só aceitou retornar ao acolhimento levando um cachorro encontrado na rua.

A conselheira Verônica relembra que ele falava desde a infância que iria para a África “domar os leões”.

A Justiça chegou a registrar que Gerson não compreendia plenamente seus atos. Em um processo por dano ao patrimônio, aos 18 anos, ele foi considerado inimputável e teve indicada internação em instituição de longa permanência, já que o tratamento ambulatorial não era suficiente. Seu prontuário no Conselho Tutelar ultrapassa 200 páginas, reunindo tentativas de atendimento interrompidas por falta de estrutura ou pela própria instabilidade dele.

Dois dias antes de morrer, Gerson voltou ao Conselho Tutelar para pedir documentos a fim de tirar a carteira de trabalho. Na ocasião, alternava momentos de lucidez e desorganização.


F.IB

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