sábado, dezembro 16, 2017

Tréllez, planejamento e Mancini: os primeiros passos de Damiani no Vitória


Erasmo Damiani recebeu a equipe do GloboEsporte.com na tarde desta sexta-feira (Foto: Thiago Pereira)

O que era para ser uma conversa rápida, virou um bate-papo de mais de uma hora. Na tarde desta sexta-feira, o novo diretor de futebol do Vitória, Erasmo Damiani, recebeu a equipe do GloboEsporte.com na Toca do Leão para uma conversa sobre o início de trabalho no clube baiano. Novo homem forte do principal departamento rubro-negro, ele contou como foi o primeiro contato com Ricardo David, ainda no início de agosto, e como a parceria se fortaleceu a medida que a eleição para definir o substituto de Ivã de Almeida ganhava corpo.
- O meu primeiro contato com Ricardo David foi na véspera do jogo entre Flamengo e Vitória, no Rio de Janeiro. A queda do Zé Ricardo. Foi num sábado à tarde. Eu fui num encontro no hotel. O Ricardo apresentou as ideias dele, do que ele imaginava no Vitória. E aí eu fui colocando algumas coisas, que eu vejo, não escondo de ninguém. E minha formação muito é base - contu Damiani.
De fala serena e muita preocupação com a contextualização, Erasmo Damiani relembrou do período de trabalho como coordenador das categorias de base da Seleção Brasileira, cargo que deixou no início do ano, e mostrou otimismo com a possibilidade de trabalhar em Salvador. O dirigente também revelou que o agente de Tréllez tem um contrato de renovação nas mãos desde outubro, negou a existência de propostas por David e Neilton, e contou como tem feito para conversar com Vágner Mancini, que está no Rio de Janeiro, para elaborar o planejamento de 2018.
Confira a entrevista com Erasmo Damiani:
Como foi o primeiro contato com Ricardo David?
- O meu primeiro contato com Ricardo David foi na véspera do jogo contra o Flamengo, no Rio de Janeiro. A queda do Zé Ricardo. Foi num sábado à tarde. Eu fui em um encontro no hotel. O Ricardo apresentou as ideias dele, do que ele imaginava no Vitória. E aí eu fui colocando algumas coisas, que eu vejo, não escondo de ninguém. (...) Então comecei a dar também um pouco para o Ricardo essa questão do campo de base, de trabalhos, que acho que os clubes às vezes esquecem desse trabalho de transição. (...) Então a minha primeira conversa com Ricardo foi em agosto. Depois nós trocamos várias ligações, WhatsApp, conversando... Em setembro, eu fui a São Paulo numa reunião com ele. Daí ele disse que poderia ter a possibilidade de acontecer uma eleição em dezembro, não estava descartado. Em dezembro ou, no máximo, em janeiro. Daí eu falei: “Em janeiro mata o clube”. O planejamento de quem está entrando, de quem está saindo... (...)
Enfim, nós começamos a conversar... "Mas pode ter segundo turno [das eleições]". E as conversas foram acontecendo, algumas intervenções. Aí nós começamos a pensar no projeto, de começar a colocar no papel, de ter... Que é uma coisa que, no futebol brasileiro, carece. Funções, o que é, o que não é. Qual a função de um, qual a função de outro, o que tu imagina num clube. Na quinta-feira passada o Ricardo me ligou e disse: “Damiani, eu posso te oficializar?”. Eu falei: “Ricardo, eu fui procurado por dois clubes e fui muito claro. Disse ‘Olha, eu tenho um compromisso com uma pessoa que eu não vou... Eu participei do projeto. Se vocês me derem até o dia 13 ou até o dia 20’. Alguns quiseram esperar, ver o que acontece”... E aí eu disse ao Ricardo: “Pode. Não tem problema nenhum para mim”. Ele teve uma certa preocupação assim de, se oficializa e depois não ganha, acho que prejudica. E eu disse que não. E aí ele anunciou na quinta-feira.
Aí nós combinamos que, na segunda-feira, eu chegaria aqui, primeiro para começar a tomar conhecimento de algumas coisas. Conversei com o Cléber [Giglio, diretor de futebol da gestão anterior] na segunda-feira à noite e não falamos sobre o clube, nada, porque eu não queria. Em eleição você não sabe o que pode acontecer. Então fui bem neutro, mas fui entendendo algumas coisas dentro do clube. Aqui você começa a ter mais informações, faz perguntas, se isso tem, se isso não tem, se sabe se tem, como funciona, como é a logística, isso, aquilo... Aí fui ligando para alguns clubes, alguns representantes de atletas, principalmente os coordenadores dos clubes, porque nós temos um bom relacionamento, saber como estão alguns jogadores. Recebi de alguns clubes nomes. Para representantes, não liguei. E jogadores que eu conheço, que trabalharam comigo, para saber como estava a situação. E aí, na verdade, ontem é que comecei a ter conhecimento. Daí conversei com o Cleber. Ainda não conversei tudo com o Mário Silva [supervisor de futebol], mas conversei com o Cléber. (...) Estava ali, antes de vocês chegarem, conversando com o Willian Farias, da época de Curitiba, algumas coisas. E aí você começa a entender algumas coisas do jogador, porque é bom você escutar o jogador, o que ele vivenciou aqui. Porque, às vezes, eles são ocupados. Não é só a culpa final deles. Então entender um pouco o que é, como ele imagina, como ele vê. Para poder, também, ter na minha mente uma construção do que pode ser feito aqui dentro. Jamais vai ser só a minha decisão, “Eu que sou o cara”. Tenho que entender. Eles são os que podem dar retorno, eles é que vão dar o retorno para o Vitória. Então eu tenho que estar sabendo como é que está, respeitar o momento do jogador.
O que você já conhecia do Vitória?
- Várias coisas. O Vitória é um clube conhecido, fortíssimo no Nordeste, no Brasil. Tem uma marca de formação muito forte. Uma cidade que vive futebol, que gosta. Eu já gostava de Salvador. E, em 2016, eu amei mais ainda, porque foi aqui que foi a nossa virada para a conquista da medalha de ouro. E nós sabíamos que Salvador seria diferente. O Vitória, da sua formação, dos seus atletas... Amadeu, eu vim tirar o Amadeu daqui para a Seleção Brasileira. Não tirei o Amadeu daqui porque eu não conhecia o Vitória. E pessoas que trabalharam aqui que são pessoas amigas minhas, pessoas que eu tenho um carinho profissional, um reconhecimento... Pessoas que eu aprendi, me ensinaram o meu trabalho. O Anderson Barros, que trabalhou aqui, trabalhei com ele no Figueirense. Então você busca informação para saber quem é quem, como é, como é o clube. E claro que agora eu vou conhecer as peculiaridades do Vitória, de Salvador, da Bahia, conhecer um pouco mais a raiz... Um clube de 119 anos. É uma vida. O que me chamou atenção, deu vontade de vir, trabalhar aqui, é essa ligação do Vitória de oportunizar, ter um centro de treinamentos muito interessante.
Às vezes vocês chegam numa cidade para treinar um dia antes e você vê centros de treinamento por aí, de clube grande, eixo Rio-São Paulo, com estruturas muito baixas. Então o Vitória tem que retomar o que ele é. Eu vejo assim. O Vitória não pode ser só 16º. Não tem estrutura, nome, marca, para estar brigando pelo 16º. O Vitória tem estrutura para algo muito maior. Jamais vou prometer aqui ser campeão disso, daquilo. Tem que trabalhar. Título não se conquista falando. Título se conquista trabalhando. Mas fortalecer a marca... O Vitória, esse ano, “Ah, 10º! Então, para o ano que vem, Sul-Americana, brigou nas oitavas, nas quartas; no Brasileiro, já foi nono, oitavo, já brigou...”. Aí você fica “Ah, agora eu entrei no meu rumo. Agora eu sou o cara”. Chapecoense? É do meu estado. O que a Chapecoense fez de mirabolante? A Chapecoense tinha um grupo, que “Nós podemos gastar X. Vamos gastar Y para sobrar um pouquinho para isso”. E vai montando, montando...
“Ah, a Chapecoense vai subir e vai cair”. Não era isso que falavam? A Chapecoense subiu e não caiu. E o que a Chapecoense faz? Fortalecimento. E o Vitória? O Vitória é muito maior, muito mais marca, mais torcida. A Chapecoense, infelizmente, ficou mais conhecida pela tragédia. E todos diziam que a Chapecoense ia cair. E eles lá trabalhando. O Vitória tem uma estrutura muito maior. Um centro de treinamento de primeira; não é aquelas “pomposidades”; ele é prático. E tem que ser prático. Falei isso ontem para o presidente, quando eu estava conhecendo. Falei “Presidente, eu estive em 2016 no centro de treinamento do Real Madrid, no centro de treinamento do Barcelona, no centro de treinamento, do Bayern, do Benfica...”. Pela Seleção, fomos à Coreia, a vários lugares. Conheci vários clubes, centros de treinamento... Todos são pela praticidade, funcionais. E tem que ser. E aqui é assim. E tu fez o estádio do teu lado. “Ah, tem que melhorar a condição para o torcedor?”. Tem. É um outro departamento. Mas, para nós, tem essa estrutura. Então vamos fortalecer para o Vitória estar brigando cada vez mais lá em cima.
Você disse que sabia que Salvador seria diferente na Olimpíada. Por que?
- Nossos dois primeiros jogos foram em Brasília. O clima... Estava na época do impeachment, o clima pesado. O estádio, um lado do campo estava úmido, tu pisava... O torcedor foi para o estádio e em 10 minutos já estava reclamando porque ele trouxe o problema do Brasil, o problema de Brasília, para dentro do estádio. Isso pesa. O ambiente pesa. Ambiente pesado é ruim de trabalhar. O primeiro jogo o Brasil empatou, daí começou aquela pressão, de “Ah, o Brasil não vai, é uma mentira”. Os caras já queriam que o Neymar, voltando de férias, fosse decidir. E nós já sabíamos que o Neymar estava em crescimento. Aí, no segundo jogo, empatamos. E os jogadores falavam “Vamos logo para Salvador”. Chegamos aqui, e foi um outro clima. Nós chegamos aqui para treinar, e era uma festa: “Vamos lá! Salvador vai mudar! É aqui que o Brasil vai começar!”. Tu sentia o carinho da população. Foi no treinamento, foi nos treinos, e no dia em que nós chegamos ao estádio, o clima do estádio, a nossa recepção, dos funcionários... Nós falamos isso no vestiário. O carinho dos funcionários, a recepção, eles sorrindo, segurando a mão do jogador: “Vamos lá! É hoje! Você vão ganhar!”. Aquilo contagiou. Nós queríamos voltar a jogar em Salvador, se pudéssemos, jogávamos a final em Salvador, brincando. Então por isso tenho um carinho especial. O povo de Salvador nos abraçou na Olimpíada.
Isso se aplica ao quadro do Vitória no Brasileiro? O time não conseguiu bons resultados em casa. Venceu apenas três partidas como mandante...
- Importante é que o torcedor tenha essa paciência, esse carinho pelos jogadores. Eles vão tentar fazer de tudo. Vamos tentar fazer o Vitória brigar por condições ótimas, para o torcedor ter o prazer. Porque a vida do Brasil não está fácil. E às vezes descarrega aqui dentro. E, às vezes, os jogadores são a salvação do torcedor que está sofrido, do que está acontecendo na política brasileira, do que está acontecendo na questão econômica do Brasil. Então, às vezes, a válvula de escape dele é o futebol. Às vezes, ele vem com aquela tensão, aí ele chega aqui e, com 10 minutos, já descarrega. Vamos tentar criar uma sinergia entre jogador e torcedor, que vai ser bom para os dois. Vai ser bom para os jogadores, que sabem que vão estar recebendo energia positiva; e vai estar dando alegria ao torcedor. Se o Vitória tivesse ganho no Barradão os jogos que ele ganhou fora, o Vitória hoje estaria na pré-Libertadores. O Vitória perdeu em casa... Perdeu confrontos diretos. Seria um outro ambiente. Mas o jogador sente... Vai jogar em casa: “Se eu perder de novo...”. As pessoas acham que jogador não tem vida.
O primeiro contato de Ricardo David ocorreu no meio do ano. Portanto, você já sabia da possibilidade de trabalhar no Vitória em 2018. Como foi acompanhar as últimas rodadas do Brasileiro?
- Eu fiz uma viagem com a minha esposa. Nesses últimos três anos... Eu passei meus 50 anos fora de casa, passei meus 15 anos de casado fora de casa, dois aniversários dela e dois aniversários da minha filha fora de casa. Então esse ano eu resolvi dar uma descansada, recuperar a minha filha, esposa... Eu fui viajar com a minha esposa. Nós estávamos fora do país e, daqui a pouco, eu entro num lugar que tinha internet. Acessei: 2 a 0 Ponte Preta. Eu pensei: “Putz... O Vitória está caindo para a Série B”. Saí dali. Três horas na frente... Cheguei no hotel, entrei na internet... Sabe quando tu vai abrindo... Uma coisa é você chegar para trabalhar na Série A; outar coisa é trabalhar na Série B. Imagina hoje a questão orçamentária, se chega para a Série B? Com certeza, alguns jogadores que nós estamos conversando por renovação, me diriam “Nem vamos iniciar conversa”. Daí fui abrindo a internet, quando vi uma foto do torcedor, “Jogo não acaba, torcedor invade campo e Ponte Preta é rebaixada”. Eu pensei: “Meu Deus”. Eu dei um grito, a minha esposa perguntou o que foi. Eu falei que o Vitória tinha ganhado o jogo. E aí comecei a ler sobre o jogo...
Aí eu falei para a minha esposa: “Para ficar bom, é o Flamengo ganhar o jogo contra o Santos, que seria depois. Daí o Flamengo vai para a Libertadores, vai ter o primeiro jogo da semifinal da Sul-Americana, vai com um time...”. Aí, no domingo do jogo contra o Flamengo, eu saí de casa, nós estávamos indo para uma despedida de um amigo nosso, que estava indo morar no Canadá... Aí 1 a 0 para o Vitória, vendo o jogo no carro. Eu pensei: “Tranquilo”. Daí intervalo. E lá tinha uma televisão, e os meninos vendo o jogo entre Vitória e Flamengo pelo celular. Dois amiguinhos da minha filha, flamenguistas, vendo o jogo, e eu só monitorando a reação. Daqui a pouco, eles gritaram, era gol do Flamengo. Tranquilo. Teve o pênalti. Quando saiu o gol, daí eu pensei: “O Vitória caiu”. Daí olhei num site de resultados, e o jogo da Chapecoense não tinha acabado. Eu falei “Só um milagre e a Chapecoense ganhar o jogo”. Aí perto de sair, resolvi dar uma olhada. Quando eu olhei, a Chapecoense tinha dado 2 a 1. Aí eu falei “Meu Deus do céu!”. Depois, conversando com o Maia, o treinador de goleiros do Coritiba, ele me contou que, na final do jogo lá, era para ter acontecido... Ele falou que o Coritiba, acho que não chegou a informação que tinha um pênalti aqui. Se o Vitória empatasse com o Flamengo, o Coritiba tinha que ganhar o jogo. Foi, tomou um gol aos 49. E é o segundo ano que a Chapecoense ajuda o Vitória. No ano passado, no penúltimo jogo, ganhou do Internacional. Foi o que fez com que o Internacional tivesse que ganhar o último jogo de 6, 7... E o Vitória perdeu o último jogo. Se o Inter tivesse ganhado da Chapecoense aquele jogo, o Vitória teria caído.
Damiani afirmou que espera o agente de Tréllez para saber o motivo pelo qual a renovação não avançou (Foto: Maurícia da Matta/Divulgação/EC Vitória) Damiani afirmou que espera o agente de Tréllez para saber o motivo pelo qual a renovação não avançou (Foto: Maurícia da Matta/Divulgação/EC Vitória)
Damiani afirmou que espera o agente de Tréllez para saber o motivo pelo qual a renovação não avançou (Foto: Maurícia da Matta/Divulgação/EC Vitória)
A eleição atrasou o planejamento do Vitória para 2018. Vocês terão cerca de um mês para montar o elenco até o primeiro jogo oficial. Como recuperar o tempo perdido?
- Oficialmente o Campeonato Brasileiro acabou no dia 3 de dezembro. Então nós ficamos já 10 dias atrás dos outros. Se houvesse o segundo turno [da eleição], seria pior. Imagina, hoje o Ricardo estaria em campanha. Meu telefone não estaria tocando, ninguém estaria pedindo acordo, estaria esperando... Clubes que não tiveram eleições no período de novembro e dezembro já começaram a se programar antes. Ou clubes que tiveram eleição, mas sabiam que o candidato da situação ganharia e ia dar uma continuidade. Por exemplo, o coirmão Bahia. O Bahia pôde trabalhar... A não ser que acontecesse de não ganhar a eleição, então o Bahia pôde antecipar alguma coisa. Agora é tentar recuperar. E não fazer loucura. Pé no chão. O mercado está aquecido. Claro que um ou dois jogadores que você queira já não consegue mais, porque já veio alguém e já fez. Aí esse é o problema de você estar atrás porque, se o Vitória tem eleição no dia 1º de dezembro e no dia 4 o Ricardo assumisse, está entrando junto com os demais no mercado. Nesse período, não fiz contato nenhum, porque era incerto. Eu vou falar com o jogador: “Tu queres jogar no Vitória?”. Aí o cara diz “Quero”. Mas entra o “Se eu ganhar...”.
Se, nesse período aparece uma proposta, ele não vai por minha causa? Jogador é diferente, tem que estar na ativa. Acho que pior do que para mim ainda é o conhecimento da casa, o financeiro, do que tem, do que pode ser feito, do que posso dar... Responsabilidade, porque ninguém está vindo aqui para gastar horrores. Porque eu vivo, a minha profissão é essa. Eu vivo do futebol. Eu tenho que tentar fazer um trabalho bem feito aqui, porque é o meu nome no mercado. Quero, se Deus quiser, ficar muito tempo no Vitória, para fazer um trabalho consistente. Mas sou do mercado. Então preciso estar sempre buscando. Tenho que ter responsabilidade com o lugar onde estou indo trabalhar. Tenho que olhar para o Vitória como se fosse uma casa minha. Não posso deixar todas as luzes acesas todos os dias, porque, no final do mês, quem vai pagar a conta sou eu. Então eu também tenho que olhar para o Vitória, não posso gastar tudo... O futebol já tem um time... O Vitória já tem uma espinha dorsal encaminhada. Não é como a Chapecoense, que começou o ano tendo que contratar todos os jogadores, o Mancini participou disso, ter que remontar, é difícil. Eu preciso saber do financeiro, saber o que pode, para passar para o Mancini e ver o que pode ser feito dentro do nosso perfil financeiro.
Como tem sido o contato com Vagner Mancini? Ele está no Rio de Janeiro, para curso na CBF.
- A primeira ligação com Mancini foi na quarta-feira à tarde. Estava acontecendo a eleição. Quem está do outro lado também deve estar ansioso. Eu disse: “Mancini, eu estou te ligando... Não sei o que vai acontecer. Pode ser que a minha conversa contigo seja a primeira e a única”. Não tinha trabalhado com ele ainda diretamente. (...) Liguei até para saber o que ele pensava, o que tinha de ideia de jogadores, de renovação do plantel, um apanhado geral. E foi uma conversa sem ser profissional. Na quarta-feira à noite, pós-eleição, eu mandei uma mensagem para ele, porque ele estava no curso... Ele tinha me dito que até meia-noite estaria acordado, até pelo presidente, se quisesse falar com ele. Mas daí eu já falei: “Bem-vindo ao clube. Vamos trabalhar junto, construir um Vitória cada vez melhor”. Ontem não tive um contato de fala com ele; mandei mensagem, porque ele estava no curso. Às vezes ele sai, e eu estou em reunião. Mas já coloquei lá que vou ligar para ele, perguntei que horas posso ligar para poder conversar, passar como estão as conversas, como estão as tratativas... Já sentei com o Cláudio, que é analista de mercado, para o presidente também ver que eu tenho minha listinha, para ver se é o que bate com o que ele tem aqui, para começar a filtrar os nomes... Daí ele me pediu para ligar entre 13h e 15h, daí liguei para ele, conversei. (...) E aí nós trocamos ideias, adiantamos várias coisas. O Mancini fica até domingo no curso. Hoje termina o PRO, mas ele está fazendo a licença A, que termina domingo. Mas acertamos que, qualquer coisa, eu mando um recado e a gente marca. Então a gente tem trocado várias informações.
Como está o processo de renovação de contratos com os jogadores que conseguiram ter destaque em 2017? O Vitória trabalha para prorrogar o vínculo de Caíque Sá, Kanu e Uillian Correia?
- Eu não vou dar nomes. Agora existem situações... E aí são casos e casos. Tem situações que dependem do que o atleta pensa... Tem alguns jogadores que ele [Vagner Mancini] solicitou, a gente está vendo. Já conversei com ele. A gente está analisando, ver se vale a pena ou não vale. Já conversei com alguns representantes. O Cléber [Giglio, diretor de futebol da antiga gestão do Vitória] me passou alguns com quem ele já tinha conversa em andamento. Ontem já entrei em contato com alguns; hoje de manhã, outros. Espero, no fim de semana, dar encaminhamento em algumas situações. Não posso dizer número, porque daqui a pouco eu digo “oito”, daí a gente fecha com dois e o torcedor fala: “Pô! Perderam seis”.
Como o Vitória tem se movimentado para buscar reforços para 2018?
- Eu não posso pensar em novas contratações... Vamos ver primeiro o nosso. Até para quem está do outro lado: “Pô, trabalhei lá e eles estão acertando o Zezinho e eu... Nem me ligaram”. Então o primeiro passo é conversar com esses atletas. Vamos procurar quem quer. O campeonato começa dia 16 [de janeiro], então é bom nós termos um plantel que já conheça o clube, já conheça a comissão técnica, a comissão conheça o jogador, para a gente começar a trabalhar. Basicamente, é isso. Mas quero primeiro os nomes que o Mancini me passou para a gente tentar fechar com algum.
Cleiton Xavier e Kieza ficam para a temporada 2018?
- Cleiton Xavier é funcionário do clube. Ele tem contrato, então não tem como chegar e... Não falamos sobre quem não quer. Ele [Vagner Mancini] falou, neste momento, sobre quem ele quer... O Cleiton Xavier é funcionário do clube. Tem contrato. Se aparecer uma proposta boa para ele, nós vamos analisar, como qualquer outro jogador, ver se vale a pena para o clube ou não. Se for válido...
Em entrevista ao GloboEsporte.com, Cleiton Xavier não descartou deixar o Vitória em caso de proposta vantajosa. O Vitória liberaria o meia caso exista a procura de outro clube?
- Ele é funcionário do clube. A gente tem que respeitar. Se aparecer uma proposta para ele, e ele achar que é necessário, nós vamos conversar. Não dá para dizer que vamos utilizar ou que não vamos utilizar, vender, emprestar... O mercado vai acontecendo um pouco. Às vezes, você acha que está em baixa, e ele dá uma mexida. Ele tem contrato com o clube, vai cumprir, se apresentar aqui no dia 3, a gente vai começar. E, se aparecer alguma coisa, a gente vai analisar e conversar.
O nome do atacante Neilton foi ligado a especulações com o futebol chinês. Houve alguma proposta?
- Para mim não chegou nada. Estive com o Cléber [Giglio, diretor de futebol da gestão anterior] ontem, o Cléber não me passou nada. Esse é um momento de muita especulação, muito boato... Não chegou nada. Enquanto não chegar no papel... “Ah, mas me falaram”. Falar... Né? Eu preciso de documento, e-mail, que comprove, para eu mostrar para a direção e dizer que recebemos proposta pelo jogador. Não tem nada. China, nem Cruzeiro, nem nada. Neste momento, não tem nenhum jogador do Vitória que tenha... Já vou até antecipar, porque tem muita [especulação], David, Tréllez... Até agora, para nós, não chegou nada de jogador nenhum. Não recebemos nada. Não estou mentindo, não estou escondendo. Não recebemos nada.
Existe a possibilidade do BMG financiar a aquisição de David para o Cruzeiro. Essa informação já chegou até você?
- Mesma coisa que chegou para vocês, um papo, uma informação... Mas não tem nada de concreto, nada de papel, nada oficializado.
O vice-presidente do Vitória declarou que existe uma proposta de renovação por Tréllez. Como está esse processo?
- Essa foi uma proposta feita pelo Cléber [Gigilio] em outubro. E o empresário não respondeu. O empresário está vindo para Salvador. Nós vamos sentar, e aí eu vou tomar o conhecimento, vou saber por que eles não responderam naquela época, se achou baixo ou alto... Vou entender com a chegada dele aqui para nós conversarmos. Era uma prorrogação acho que de mais um ano, com projeção de mais dois anos. Acho que sim. Pode ser que eu esteja enganado. Não é concreto, porque agora tem tanto contato. Eu tenho um dia e meio aqui dentro. Vamos esperar essa vinda do empresário para ver o que ele está pensando, porque é um momento muito de especulação. Oficialmente, até agora, nada.
Já tem uma projeção de orçamento definida para 2018?
- Ainda não, porque a parte financeira também está tomando conhecimento. A parte financeira está que nem eu. Uma coisa é tu chegar em um clube que já tem um diretor financeiro, um gerente financeiro, o presidente já tem o orçamento... Para mim é mais fácil. Agora, não. Eles estão tomando conhecimento também da casa. Eu não posso chegar e pedir o orçamento. Não posso te falar, eu também estou tomando conhecimento sobre isso. Estou conhecendo a casa. Gostaria de ter esses valores o quanto antes, mas vou depender muito do financeiro, porque eles estão tentando ter, o quanto antes, essa resposta para nós trabalharmos. Vou tentar pelo menos, jogadores que não renovaram ou que terminaram o contrato, a gente tentar trazer jogadores naquele contexto, dentro daquilo que nós tínhamos. Pelo menos para nós termos, neste primeiro momento, uma folha muito parecida com a que terminou o ano. Mas eu posso até chegar e daqui a pouco o financeiro falar assim: “Ô, Damiani, nós vamos ter que tirar mais 10% na folha. Crie, invente, tente...”.
Ricardo David estabeleceu um perfil de jogadores para compor um time rápido, agressivo. Já existe um mapeamento para buscar peças com essas características?
- O Ricardo fala na questão de resgatar a essência, a identidade, do clube. Que eu acho que é fundamental em qualquer clube do Brasil. Nós fizemos isso na CBF, de um perfil de jogadores inicial. O resgate do futebol brasileiro. O futebol brasileiro é conhecido como? A arte, o drible, o um contra um, a irreverência na frente da área... Então nós buscamos esse perfil. Se tu pegar a Seleção que o Micale montou no Mundial Sub-20 de 2015, foi muito parecida. O Gabriel Jesus, João Pedro, lateral-direito, jogador interessante, Marlon, que está emprestado ao Barcelona... Amadeu, com a montagem da Seleção Brasileira Sub-17... Aí Vinícius Junior, Paulinho... Nós estamos buscando esse resgate do futebol brasileiro. E, ao mesmo tempo, o presidente fala nessa questão do resgate do Vitória. É claro que você vai, aos poucos, tentando. Não vamos chegar aqui agora e dizer que, em julho, nós teremos os 30 jogadores como o Vitória pensa. Mas vamos tentar. O Vitória sempre foi um time jovem. Quando falo jovem, na questão da idade também, mas jogadores querendo mostrar e sempre olhando para o seu umbigo. O Vitória sempre olhou para o umbigo dele e olhou sempre bem. Vamos tentar resgatar... Não é culpa da base, porque muitas vezes você se preocupa só com o profissional e esquece aqui. A gente tem que estabelecer metas, caminhos, para que as coisas tenham uma engrenagem. Como qualquer máquina. Depende de uma pecinha para que ela renda, para a outra ir, e você melhorar. Às vezes, tem uma pecinha que não está, e você tira, arruma, para ela engrenar.
Uma das propostas apresentadas por Ricardo David era a de mapear o mercado africado atrás de reforços. Você conhece jogadores que possam integrar o clube já na próxima temporada?
- Isso não foi definido ainda. É um mercado emergente. Principalmente para a Europa, porque a facilidade de deslocamento é mais fácil do que para o Brasil. A mesma coisa as colonizações... Muitas colonizações são francesas, inglesas, portuguesas, então eles têm um pouco mais de facilidade. Agora é claro que você não pode... E acho que o que o presidente fala, é você não fechar a porta. “Ah, porque o continente é distante, você não vai olhar”. Não. Vamos tentar, daqui a pouco, ver quais são os meios. Hoje eu não tenho como deslocar um funcionário para ir para lá. Mas a gente pode, daqui a pouco, com um departamento de inteligência, analisar quem são os futuros atletas que estão acontecendo lá. Porque hoje... Estou dando entrevista aqui com um celular com gravação. Eu ainda sou da época do gravador (risos). Então evoluiu. Você tem as ferramentas que possam levar-nos a um acesso ao continente africano. O continente africano não é pequeno, é imenso. Mas você pode ter acesso a algumas coisas. E tentar, daqui a pouco, começar a ter esse intercâmbio. Porque tudo começa através do intercâmbio. Daqui a pouco, você traz algum para cá... Aí entra em adaptação ao país, à língua, à cultura, à comida... Mas é um mercado que se tem. Como o mercado sul-americano, que fornece. O Brasil está indo ao mercado sul-americano por quê? Porque, financeiramente, ele está mais barato, às vezes, do que o mercado interno.
O contrato de Caíque se encerra em 2018. Existe o interesse do clube na renovação? Recentemente ele deixou no ar que poderia deixar o Vitória ao fim do vínculo.
- Jogador, às vezes, de cabeça quente, ele fala... E um jogador de 19 anos vai falar mais ainda. No retorno, vou ver, vou sentar, tenho que conversar com o Caíque. Escutar o atleta, o que ele pensa, o que ele vê. Mostrar que o clube também pensa nele, porque, às vezes, o jogador não sabe se o clube o quer. O Caíque tem um potencial enorme. Tem que amadurecer. Idade faz parte do processo. Se o Caíque é um cara amadurecido, com aquele tamanho, com aquilo tudo, eu ia dizer “Gente, o Caíque não é 97 nem aqui nem na China”. É o processo de formação dele. É que nós temos que entender que existe esse momento de desequilíbrio emocional, desequilíbrio de momento técnico, estrutura. Não é o clube que vai salvar uma condição... Às vezes, muitos atletas que vêm com dificuldade de família, daqui a pouco, tu sai, a sua cabeça muda, seu salário é “X” e passa a “Y”, então sua cabeça muda... Como mudaria a de qualquer um. Você pode, daqui a dois meses, receber coisa que achou que ia ter que trabalhar a vida inteira para receber. O entorno do atleta hoje é muito complicado. Não estou falando aqui do Caíque, estou falando de um contexto, mas é para chegar nele. Um menino, pela idade. Os pais, às vezes, largam o emprego para viver do salário do filho. Então o menino passa, com 19, 20 anos, a ser o gestor da família. E aí? O Caíque, tenho que sentar, ver o que ele pensa, sentar com o representante do Caíque. É um atleta com potencial enorme. Tem que melhorar? Tem. Todo atleta tem que melhorar. Goleiro demora mais ainda para melhorar. Aí podem querer comparar com o Jean. O Jean é 95, o Caíque é 97. Jean esteve com a gente na Seleção, teve seus momentos aqui no Bahia que quase também... O Jean também esteve quase saindo por questões também de briga, falha... E hoje... É amadurecimento. Não podemos olhar o Caíque, que tem 20, como um goleiro de 30.
Em 2017, o Vitória contratou medalhões, mas a estratégia não deu certo. Como você pretende agir no mercado?
- Tentar mesclar. Vamos ter que ter um time, não um pouco mais novo, mas algumas peças, jogadores mais novos, sim. Jogadores no mercado com idade que possam estar contribuindo.
O Vitória é reconhecidamente um bom formador de jogadores, mas não consegue aproveitar os pratas da casa com eficiência no time profissional. Com sua experiência em categorias de base, o que pode ser feito para evitar esse fenômeno?
- Não se tem uma fórmula pronta. Futebol não fórmula. Mas é, primeiro, conhecer como é a estrutura, para você também mostrar aos profissionais que estão no clube, à comissão técnica, Mancini, que temos que olhar com carinho... Temos que ter um processo de transição aqui, porque você pode ser passageiro, mas, para o atleta, não é passageiro. Se eu pensar: “Ah, esse menino é 99. Ele só vai virar profissional daqui a três anos. Daqui a três anos eu não vou estar no Vitória, então não vou dar bola”. Quantos craques nós perdemos? Quantos bons jogadores se perdem no Brasil por causa disso? Uma gama de jogadores. Às vezes, quem está administrando, quem está na parte técnica... Eu não culpo o treinador, porque ele depende do resultado. Às vezes, se ele ganhar três jogos, ele está empregado; se ele perde três jogos, já começam a pensar em demiti-lo... Então você vai ter que segurar. O Vitória, financeiramente, eles estão analisando... Mas daqui a pouco nós vamos ter que olhar mais para a base, conhecer os jogadores. Tem a Copa São Paulo aí começando em janeiro. Então ver quem são os jogadores do Vitória que vão estar bem lá, que poderão, daqui a pouco, a gente trazer, para, daqui a pouco, acompanhar um pouco mais... Mas, para isso, eu também preciso estruturar o departamento. Nós temos analistas de desempenho da base para poder alimentar o profissional? Podemos fazer isso. Mas eu estou chegando agora. Precisamos organizar. Nordeste, Bahia, Salvador, têm muito potencial de atleta. Mas nós precisamos colocar essa marca... O Vitória como o maior formador do Nordeste do Brasil. David Luiz, Hulk, Gabriel Paulista, Dida, Paulo Isidoro, Vampeta, Alex Alves. Olha quanto nome. O Vitória tem que ter isso. O gado só engorda com o olho do dono.
Ge


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